09 outubro 2008

Artigo










O Surrealismo e a Esquerda

*Por Luiz Pilla Vares

A morte do trotskista histórico Pierre Lambert traz à lembrança de todos as relações entre a esquerda e o movimento surrealista. Em sua turbulenta história, o surrealismo não foi apenas um movimento estético. Foi também visceralmente político. E assumidamente de esquerda, seja ao lado dos trotskistas, com André Breton, o principal nome do movimento, e o grande poeta Benjamin Péret, também militante revolucionário, seja ao lado dos anarquistas, com a colaboração de vários de seus integrantes com a Federação Comunista Libertária. Breton assinou juntamente com Trotsky o famoso Manifesto Por Uma Arte Revolucionária Indepedente, que tinha como conclusão "a revolução pela liberdade da arte e a liberdade da arte pela revolução".

Benjamin Péret também simboliza a unidade do surrealismo com as posições de esquerda e participa ativamente, ao lado de Breton, na tentativa de construção da FIARI (Federação Internacional da Arte Revolucionária Independente), com o apoio entusiasmado de Trotsky. Junto com Grandizu Munis, esteve sempre muito ligado politicamente a Natália Sedova, a companheira de Trotsky.

Mas, por que a lembrança de Lambert?

É ele mesmo quem explica, em uma entrevista de outubro de 2004: "Eu estava muito ligado a Péret e a Breton...Péret tinha uma alegria vibrante, um esquerdismo notável. Ele era inacreditável, de um comportamento anarquista...Comíamos freqüentemente juntos, nos divertíamos muito. Com ele, as posições eram claras e a gente discutia...era um militante ativo e sincero da 4ª Internacional".

André Breton compareceu, em 29 de janeiro de 1962, aos funerais de Natália Sedova Trotsky, no cemitério Père Lachaise em Paris. Seu discurso fúnebre foi considerado o mais contundente: "Sessenta anos de uma luta que se confunde com a do prestigioso companheiro que ela escolheu...Nestes sessenta anos, viu-se colocar pela primeira vez, em termos concretos, o problema da emancipação humana...Pelo que nos liga a ela, é tranquilizador, é quase uma felicidade que ela tenha vivido o suficiente para denunciar aqueles mesmos que receberam a herança, o banditismo stalinista, que usou contra ela os piores requintes de crueldade. Ela teria sabido enfim que o processo evolutivo imporia uma revisão radical da história revolucionária destes últimos 40 anos, história cinicamente refeita, e que ao término deste processo irreversível, não somente toda a justiça seja feita a Trotsky, mas às idéias pelas quais ele deu sua vida tomariam todo vigor e toda a amplitude".

Breton passou sua vida de poeta tentando unir Karl Marx e Rimbaud: " A ambição de transformar o mundo e a de mudar a vida, o surrealismo as une tornando-as um só imperativo indivisível...a luta ideológica entre o stalinismo e sua corja, de uma parte, e o anti-stalinismo revolucionário de outra parte, é baseada na concepção geral da vida material e espiritual da humanidade". São palavras que mantém uma impressionante atualidade para toda a visão de mundo da esquerda mundial.

* O Blog presta sua singela homenagem ao companheiro Pilla Vares com a postagem deste artigo (publicado originalmente em 30/01/2008, no sítio PTSul/Cultura).

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