27 dezembro 2008

3 Poemas



















Assentamento


O trigal
doira as coxilhas
(vergadas pelo arado)
do outrora antigo latifundio.

As crianças
coradas e bem nutridas
voltam da escola
(onde antes ficava o rodeio).

O trigo
substituindo
o descampado
os berros do gado
as brigas de touros.

***

A mudança é clara,
evidente:
o individual
arredando
ao coletivo.

***

No assentamento
a comunhão é realizada
a esperança é renovada
a terra, de forma coletiva,
cultivada...

A história
reescrita;
a Justiça,
(ainda que tardia),
resgatada.

(Júlio Garcia - Santiago/1995)

.......


Aparthaid Social


São milhares, são milhões
os moribundos sociais
as chagas estão abertas
no país dos desiguais.

Estão por toda parte
são multidões ... indigentes
nas favelas e nas vilas
ou nos guetos deprimentes
(causados pelo ‘aparthaid’
da ‘sociedade’ ... indecente).

Olha só, meu companheiro
no que virou este povo:
são retalhos, fragmentos
-de vidas que se esgotaram
são pessoas maltratadas
-que de viver já cansaram.

Sorte cruel. Mas, será mesmo
‘sorte’? Mais uma vez vamos nós
culpar de novo o destino?

-Vamos ser mais conseqüentes,
cobrar das autoridades
uma atitude decente
que acabe com o desatino!

O que iremos fazer?
Ficar de braços cruzados?
Ou agir como cidadãos?

-Recuperar nossos sonhos,
ter coragem
ter visão

-deixar de mediocridade
reerguendo esta Nação!

-Pois assim, já não dá mais.

São milhares, são milhões
os moribundos sociais.

-As chagas continuam abertas
no país dos desiguais.

(Júlio Garcia - Santiago/1995)

.......

Intervalo

É noite.

A fila avoluma-se no balcão do bar-lanches

O cheiro de frituras impregnando o ar
tomando conta do ambiente
as bocas voluptuosas triturando o xis-salada
cafés pastéis refris cervejas 'ficadas'
provas futebol risos em profusão 'baladas'
& belas e estonteantes curvas insinuantes & sem maldade
pedindo fogo com a douçura
do anjo

Eu, voyer alienígena exótico
em minha mesa solitária comtemplando
a agitada cena estudantil
.....

Então,

bebo um gole de tinto & degusto
antigas e cálidas ...
recordações

(Júlio Garcia - Canoas/2008)

2 comentários:

Jean Scharlau disse...

Tua poesia me aquentou esta manhã, como uma boa caneca de café quente
e pão com chimia
na beira do campo
que começa a ser arado

Grande abraço
E que cada dia seja o primeiro
De um ano sempre renovado

jo disse...

Boa tarde Julio, resolvi procurar alguma coisa p ler e me deparei com sua poesia, muito bom obrigado!!!!