19 setembro 2009

Poema



















Tecendo a Manhã


1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

2 comentários:

Anônimo disse...

Bela escolha. Poema riquíssimo de significados.

YvyB disse...

"Mil perdões" diria o poeta Chico Buarque, pouco li ou não tive curiosidade em ler João Cabral. O Morte e Vida Severina global foi suficiente. Há algo oculto nos poemas que não alcanço ou não sei sentir. :)

Abrs!