18 novembro 2009

Metrô, versões e omissões













Barbeiragem de Fogaça faz Porto Alegre perder o metrô

Projeto do traçado inicial é um completo equívoco

Cristóvão Feil escreve:

A imprensa direitista de Porto Alegre está dando a sua versão sobre o metrô da Capital. Ontem, o prefeito José Fogaça (PMDB) recebeu um redondo não em Brasília. O metrô não tem condições de sair antes da Copa de 2014.

A versão da mídia pode ser resumida pelo que disse ontem à tarde, por volta das 15h, na rádio Gaúcha, o locutor Lasier Martins. Segundo o veterano radialista - uma espécie de voz-do-dono da RBS - "[...]desmancha-se de uma vez por todas essa ilusão que vinha a ser mantida há tantos meses, portanto, o governo federal não vai ajudar ao tão ambicionado metrô de Porto Alegre e tudo aquilo que temos ouvido nos últimos anos não passa de uma engambelação, de uma ilusão, principalmente eleitoreira, o governo federal não tem ou não pode ou não quer as obras do metrô até a Copa do Mundo." [...]

Dito isto, praticamente um veredicto de autoridade, o locutor Martins colocou no ar o senador Paulo Paim (PT-RS). Este, incapaz de oferecer um contraponto ao irrecorrível julgamento do revoltado locutor rebessiano, limitou-se a discorrer - de forma queixosa - sobre o seu demagógico projeto de aumento irreal aos aposentados e pensionistas da previdência.

Hoje, os jornais lamentam a negativa do metrô, mas não informam os motivos do governo federal para fazê-lo. Semeando confusão, querem fazer acreditar que há uma má vontade do governo da União ou uma "engambelação para fins eleitorais" como se referiu o locutor da rádio Gaúcha. O argumento é anêmico, não resiste a um sopro de pulga: como se explica que uma negativa pode visar vantagens eleitorais?

A verdade é a seguinte, no que se refere ao metrô de Porto Alegre: o traçado inicial é um completo equívoco, uma "barbeiragem", como diz o governador Serra a respeito de suas próprias obras cadentes, não atende a exigência básica de um projeto urbanístico de cunho eminentemente social, qual seja, o de atender o conjunto da população em tempo integral e sem prazo de validade. Proposto pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, gestão José Fogaça, o projeto inicial do metrô vai do Mercado Público, no Centro, ao estádio Beira-Rio, na avenida Padre Cacique, portanto, ao contemplar somente o público do futebol, por mais prioritário que este possa ser, exclui liminarmante áreas mais densas e usuários do transporte público coletivo com demandas mais importantes e permanentes do ponto de vista social, econômico e ambiental.

Assim, é relevante que o locutor da Gaúcha e os jornais direitistas apontem as suas baterias de críticas em outra direção, mais precisamente mirando o Paço Municipal de Porto Alegre, gabinete do prefeito José Fogaça. Com a disposição equivalente a de um tropeiro de lesmas, Fogaça perde o metrô, mas quem sai prejudicado é a população de Porto Alegre.

*Cristóvão Feil
é sociólogo e editor do blogue Diário Gauche
http://www.diariogauche.blogspot.com/

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