20 novembro 2013

Valeu, Zumbi!



Por João Hermínio Marques*

O grito forte dos Palmares, que correu terras, céus e mares.
Influenciando a abolição.
Zumbi, valeu!
Somos todos Kizomba, somos todos a festa e a luta da raça. Dia 20 de novembro é muito além de uma data pela consciência negra. Dia 20 é a data do herói Zumbi, é a data simbólica da luta e resistência contra a escravidão e contra o racismo, a nossa herança maldita.
Todo dia deve ser tempo de consciência negra. Aliás, cabe salientar que a consciência social-humana é a desejável. No entanto, em período de preconceito, torna-se indispensável o corte étnico-histórico. Tivemos grandes avanços na luta pela igualdade étnica no Brasil. As cotas, em especial, são as grandes demonstrações de que o lamento triste, que sempre ecoou, começou a mudar de ritmo. Negros e indígenas entraram em processo de inclusão social, principalmente, por vias educacionais. A ampliação do acesso ao ensino superior é, indubitavelmente, o maior portal de transformações individuais e coletivas executadas no Brasil recente.
Todavia, a questão racial ainda encontra muito obstáculo a ser vencido. Em verdade, quase todos inerentes a uma sociedade capitalista. Talvez, o grande dilema brasileiro é que houve determinada naturalização do racismo durante o processo de formação do povo brasileiro. A democracia racial freyreana foi, por muito, festejada. E, justamente, naquele tempo de concepção do jeito brasileiro de ser.
A carne mais barata do mercado é a carne negra, e ninguém contesta isso! Os monopólios de comunicação produzem estereótipos, e reproduzem a tradição escravista, com tamanha naturalidade, que o escravizado pós-moderno aceita seja aquele o seu mecanismo de inclusão social. As mulatas do carnaval com uma espécie de caça-mulatas promovida por um programa dominical, de péssima qualidade, da rede Globo, é o melhor exemplo disso. Nesse mesmo programa, há uma espécie de concurso de miss, ao contrário do outro quadro, no tal concurso não se percebe qualquer beleza negra. Pior, a mesma emissora tem programas de “humor” (racismo é engraçado?) que abusam do preconceito. Isso são apenas algumas das exibições de horrores notadas na monopolizada televisão brasileira.
Por evidência, a quantidade de parlamentares de origem negra é ridícula. Porém, isso não é exclusividade negra, afinal, o Congresso Nacional caminha a passos largos à plena crise de representatividade. E, junho já denunciou… E, a reforma política, a verdadeira, naufragou… Existe um projeto que visa positivar ações afirmativas para as eleições ao legislativo. Parece interessante, contudo, válido frisar que a causa é sistêmica. É imperioso respeitar a vontade do povo que foi às ruas, lançar a Constituinte soberana para definir os novos rumos da política nacional. Nem a reforma gabinetizada por doutos vândalos do Congresso, nem mesmo essa proposta de cotas para negros, será a solução da quase nula representatividade do parlamento brasileiro.
Samba, por fim. Pois, nada é mais africano, nada é mais brasileiro, do que o diálogo musical. O samba uniu as raças. Fez valer a resistência negra, a solidez cultural afro-brasileira, consolidou a formação do nosso povo, junto com o futebol, ambos símbolos de pertencimento social negro, ou deveriam ser… Não se pode olvidar, lamentavelmente, da elitização e alta-mercantilização de ambos ícones da cultura popular brasileira: o samba (carnaval) e o futebol. É de fazer chorar aquela festa, que o rico ignorava e criminalizava nos séculos passados, e hoje ele quer tomar conta… Não conseguirão!
Finalmente, compartilho quatro grandes sambas, negro-conscientes, contra o racismo. Nada mais combativo ao racismo do que a beleza de nossa música popular.
Consciência negra é todo dia! Viva Zumbi! Viva João Cândido! Viva todos os negros e negras do imenso povo brasileiro! Viva a nossa luta por uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceito, sem racismo. Viva o Socialismo Popular Brasileiro!
Negro é terra, negro é vida,
Na mutação do tempo,
Desfilando na avenida.
Negro é sensacional! É toda festa de um povo! É dono do carnaval!
Ilu Ayê…”

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