12 janeiro 2014

Pasárgada




*Vou-me Embora Pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive


E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!


E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar


Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem de tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção


Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

E quando a noite me der

Vontade de me matar


Vou-me embora pra Pasárgada


— Lá sou amigo do rei —

Lá tenho  a mulher que  quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

                      
               Manuel Bandeira

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