30 agosto 2015

'El Mapa de Todos' - Daniel Viglietti




*Show do grande músico uruguaio Daniel Vigletti, gravado no Festival El Mapa de Todos, no Teatro São Pedro, em Porto Alegre/RS, em 12 de novembro de 2014. 
-Cantor, compositor e militante político internacionalista engajado, Daniel Viglietti é um dos nomes mais importantes da musica popular da América Latina. (Via TVE/RS).

Luís Inácio voltou: “se for preciso, eu vou pra disputa”, diz Lula


As forças de centro-esquerda podem se recompor, desde que falem para o futuro. Ninguém mais votará em Lula ou na esquerda só pelo discurso (verdadeiro) de que “tiramos milhões de pessoas da miséria”.
Lula voltou, e precisa falar para o futuro; Mujica é a maior prova de que o velho pode carregar a semente do novo
Lula voltou, e precisa falar para o futuro; Mujica é a maior prova de que o velho pode carregar a semente do novo
por Rodrigo Vianna*
No inicio do mês, escrevi que a verdadeira tragédia de agosto não era o avanço conservador, os ataques à democracia e à esquerda. Isso é o que se espera da direita brasileira…
A tragédia mesmo era ver Lula (a maior liderança popular produzida por esse país, ao lado das figuras de Vargas e Prestes) acompanhar isso tudo calado.
Pois bem… Lula voltou.
Luis Inácio está de volta. Num encontro em Minas Gerais, anunciou nesta sexta-feira (28/agosto) que pode, sim, ser candidato em 2018 (clique aqui para saber mais). E isso ajuda a evitar o desmanche do campo que desde 2003 se organiza em torno de Lula.
Os erros cometidos por Dilma no início de seu segundo mandato, somados à mais dura campanha midiática contra um partido em meio século (a campanha de aniquilamento do PT só guarda paralelo com o que foi feito com o velho PCB nos anos 40 e 50), ameaçam provocar um estouro da boiada.
E é nesse quadro que Lula ressurge.
Sim, as pesquisas mostram que hoje ele perderia no segundo turno para Aécio e mesmo para Alckmin. Mas quem entende de pesquisas faz a seguinte leitura: é quase inacreditável que Lula, depois de passar os últimos seis meses apanhando todos os dias, ainda tenha um terço dos votos.
Sim, o quadro não é fácil. Mas por outro lado, todos os levantamentos sérios e mais profundos na sociedade brasileira indicam que há um “campo político-social” que está descontente com Dilma e o PT, mas (ainda) não se bandeou para o outro lado.
As forças de centro-esquerda podem se recompor, desde que falem para o futuro. Ninguém mais votará em Lula ou na esquerda só pelo discurso de que “tiramos milhões de pessoas da miséria”.
A maior parte dos brasileiros comprou a versão (vendida pelo próprio Lula) de que esse é um país de classe média. Quem ganha mais de 2 mil reais por mês já não se vê como pobre. E não vai apoiar um projeto apenas porque ele no passado ajudou a tirar milhões de pessoas na miséria.
Agora é a hora do futuro.
O brasileiro médio não quer bater panela, nem quer a volta da ditadura. Nem quer que a Dilma morra. Mas quer um projeto que garanta igualdade de oportunidades para seus filhos. E o governo Dilma/Levy aponta para tudo, menos para o futuro.
Lula pode ser a liderança a recompor esse campo, se oferecer um projeto novo. E Dilma pode ajudar se, em paralelo com sua disposição inabalável para manter as instituições funcionando (mesmo contra o PT e contra o governo), ousar um pouco, e sair da pura agenda levyana.
Sim, é preciso reconhecer que a corrupção não é “um probleminha menor”. O erro é transformar a corrupção em centro do debate (como faz a UDN tucana). O centro do debate segue a ser a desigualdade. Mas é preciso dizer em alto e bom som que foi um erro não se combater os desvios com ainda mais vigor – em que pese o fato de jamais o MPF e a PF terem trabalhado com tanta liberdade(e, às vezes, com alguma irresponsabilidade).
Sim, os tucanos não tem moral pra falar em corrupção. Ok. Mas o povo, especialmente o mais jovem, não quer esse campeonato de “eles roubaram mais, e a mídia não fala nada”.
Isso serve para escancarar a hipocrisia da velha imprensa. Mas não serve como horizonte de futuro.
Luis Inácio voltou. Mas esse retorno não pode significar a volta também do velho “sebastianismo” luso-brasileiro. O rei heróico morto em combate (Dom Sebastião) não voltará. Primeiro porque Lula não é rei. E segundo porque ele e o projeto que representa não estão mortos. Esse projeto precisa ser atualizado. E o “grande líder” sozinho não cura todas as feridas.
Todas as pesquisas qualitativas sérias (especialmente as que envolvem a classe C) indicam que hoje o centro da disputa é para atrair um amplo campo da população (cerca de 40% dos eleitores – que já votaram em Lula e Dilma, mas estão descrentes do governo e do PT). Um “salvador da pátria”(pela direita)  pode conquistar parte desse público. Um tucano mais moderado (que reconheça os avanços do lulismo) também pode conquistar…
Mas ninguém mais do que Lula pode cumprir esse papel de reordenamento. A centro-esquerda precisa de um novo projeto, precisa falar para o futuro. Sem enterrar as bandeiras do passado.
A multidão que foi à concha acústica da UERJ ouvir o uruguaio Mujica (o esquerdista sóbrio e anti-consumista) é um sinal de que há espaço para um novo projeto.
A saída é apostar na generosidade do povo brasileiro. Enfrentar a direita, sim. Mas falando também para a imensa maioria que não tem ódio no peito, mas está desanimada. E, cá entre nós, tem motivos pra isso.
Lula e a esquerda no Brasil precisam de uma pitada de Mujica. Não é à toa que os dois estarão juntos neste sábado – simbolicamente, em São Bernardo do Campo, a cidade operária que Lula ajudou a transformar numa “cidade de classe média (clique aqui para saber mais sobre o ato com Lula. e Mujica).
Luis Inácio voltou. Mas sozinho não vai ganhar a parada. O Brasil precisa de um novo projeto.
*Fonte: http://www.revistaforum.com.br/

29 agosto 2015

Concierto De Aranjuez





*Paco De Lucia ''Concierto De Aranjuez'' (Música Joaquín Rodrigo)

IDÍLICA





Idílica Estudantil

Nossa geração teve pouco tempo
começou pelo fim
mas foi bela a nossa procura

ah! moça, como foi bela a nossa procura
mesmo com tanta ilusão perdida
quebrada,

mesmo com tanto caco de sonho
onde até hoje
a gente se corta.

***

(...) sou um combatente provisório 
de uma causa quase eterna no homem, 
acredito ter como bandeira 
senão o sonho perfeito, 
a melhor utopia possível (…) 
         
                            (Alex Polari de Alverga)

28 agosto 2015

Há 32 anos nascia a Central Única dos Trabalhadores (CUT)


Prefeitura de São Bernado do Campo

Fundada em meio à efervescência da luta por democracia, a entidade foi protagonista na queda da ditadura militar

Neste 28 de agosto de 2015, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) completa 32 anos. Fundada em meio à efervescência da luta por democracia, a entidade foi protagonista na queda da ditadura militar, com milhares de trabalhadores organizados indo às ruas contra o governo.
Foi durante o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em São Bernardo do Campo, em São Paulo, que a CUT foi criada. Intensas discussões marcaram a formação da primeira Executiva, que culminou com a nomeação do metalúrgico Jair Meneguelli como primeiro presidente da Central.
A CUT se consagrou como a grande representante da classe trabalhadora brasileira, tornando-se a maior central do Brasil e da América Latina e a quinta do mundo. Com quase quatro mil entidades filiadas, a CUT representa mais de 24 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo o País.
Durante seus 32 anos, a CUT teve seis presidentes, à frente de inúmeras conquistas à classe trabalhadora brasileira. Confira agora, por período, os principais avanços capitaneados pela Central:
Jair Meneguelli (1983-1994)
Uma recessão econômica, aliada ao desemprego profundo, eram os maiores desafios da classe trabalhadora nos idos de 1983. Delfim Netto e o presidente à época, o militar João Batista Figueiredo, insistiam no curvar de cabeças ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que ditava as regras no Brasil.
No dia 6 de julho de 1983, os petroleiros organizaram um dia de paralisação contra os rumos da economia, a submissão ao FMI e por garantias de direitos à classe trabalhadora. Em resposta, o regime militar interviu em diversos sindicatos, destituindo suas diretorias e entregando a administração das entidades para representantes dos patrões.
Até mesmo sindicatos que prestaram solidariedade aos petroleiros, como os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, foram alvos de ataques dos militares e intervenções.
A Comissão Nacional Pró-CUT foi protagonista na construção da greve geral do dia 21 de julho de 1983, que parou o País. Ao todo, mais de dois milhões de trabalhadores e trabalhadoras cruzaram os braços.
A greve geral sedimentou o caminho e trouxe força política para a criação da CUT, pouco mais de um mês depois. Desde o princípio, a Central demonstrava seu compromisso com a classe trabalhadora, organizada a partir da base e consolidando um sindicalismo classista.
Vicentinho (1994-2000)
Eleito presidente da CUT em 1993, o então metalúrgico Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi responsável por comandar a Central durante a ascensão do sociólogo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao poder. Com o tucano, veio também o avanço do neoliberalismo, que intensificou o desemprego, com políticas favoráveis aos empresários e cumprindo a cartilha do FMI.
Em 1997, Fernando Henrique Cardoso se isolava na política nacional, entregando o País às multinacionais, por meio de privatizações, que seguem mal explicadas até os dias de hoje, e cumprindo as metas estabelecidas pelo FMI. Foi quando a CUT encabeçou o “Fórum Nacional de Lutas”, que uniu diversos movimentos sindical e sociais.
Na pauta, a defesa pela retomada dos empregos, a redução da jornada de trabalho, aumento de salários, reforma agrária, o fim das privatizações, auditoria nas empresas já privatizadas e a suspensão do pagamento da dívida externa.
João Felício (2000-2003) e (2005-2006)
Ainda na esteira do neoliberalismo promovido por Fernando Henrique Cardoso, o mandato do professor João Felício conseguiu uma das mais importantes vitórias contra o governo do tucano, que queria flexibilizar a CLT.
Com atuação importante do presidente da Câmara dos Deputados à época, Aécio Neves (PSDB-MG), FHC tentou aprovar o projeto – de sua autoria – que alterava o artigo 618 da CLT, em 2001, permitindo modificações em direitos básicos dos trabalhadores, como as férias e o 13º salário.
É fácil entender, hoje, de onde vem a conduta autoritária e antidemocrática do atual presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Aécio Neves não apenas trabalhou contra os trabalhadores como fechou as galerias, impedindo que os trabalhadores acompanhassem as discussões do projeto. Somente após a intervenção do STF, a Câmara foi aberta ao povo.
A CUT, aliada aos movimentos sociais, impediu a aprovação do projeto.
Luiz Marinho (2003 - 2005)
O ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC assumiu a Presidência da CUT em um momento singular na história da Central. Pela primeira vez, um governo apoiado pela CUT havia sido eleito, meses antes. O desafio era aproveitar o momento para implementar o máximo possível de propostas construídas ao longo de 20 anos e, ao mesmo tempo, manter a independência e cobrar quando preciso.
Nesse sentido, a principal marca do mandato de Luiz Marinho foi imaginar e concretizar as Marchas Nacionais do Salário Mínimo que, a partir de 2004, levam milhares de trabalhadores e trabalhadoras a Brasília para cobrar um mecanismo de aumento real do piso nacional.
Essa pressão, sempre ao final do ano, às vésperas da votação do Orçamento da União, serviu para que Lula passasse a aprovar aumentos acima da inflação, por meio de medidas provisórias. Começava ali a se consolidar a fórmula atual da política de valorização do salário mínimo: inflação + resultado do PIB = índice de reajuste.
Só depois, em 2007, a fórmula seria transformada em lei, em votação no Congresso Nacional. Luiz Marinho deixou a CUT em julho de 2005, após convite de Lula para assumir o Ministério do Trabalho, em meio à crise política instalada naquele ano.
Artur Henrique (2006 - 2012)
Resistência e diálogo podem ser duas palavras definidoras dos dois mandatos do trabalhador do setor elétrico Artur Henrique. Um dos momentos mais marcantes de sua gestão, e que teria reflexos positivos para o Brasil como um todo, foi a decisão da CUT de não participar de um acordo pretendido e anunciado pela Fiesp e pela Força Sindical para reduzir salários e suspender contratos em todos os setores de atividade, antes mesmo que os temidos efeitos da crise internacional de 2008 chegassem por aqui.
A recusa da CUT implodiu o acordo, defendido pelo empresariado e por setores da grande mídia. A partir daí, a CUT passa a costurar acordos com propostas para manter os empregos e os salários.
Não é exagero dizer que a posição da Central deu suporte para que o governo Lula enfrentasse com sucesso a crise financeira e impedisse que o desemprego contaminasse a vida brasileira.
Com Artur à frente, a CUT conquistou a ratificação da Convenção 151 da OIT- que garante negociação no setor público -; a aprovação da política de valorização do salário mínimo; a entrada em vigor de uma reivindicação histórica da Central, o fator acidentário previdenciário (FAP); uma legislação específica para garantir direitos trabalhistas às trabalhadoras domésticas, e a regulamentação do trabalho aos domingos no comércio, entre outros pontos.
Por intermédio do diálogo e da proposição, a CUT, junto com sua FUP (Federação Única dos Petroleiros) também deu importante contribuição para o atual marco regulatório de exploração do pré-sal. 
Vagner Freitas (2012)
Sem dúvida alguma que a gestão do bancário Vagner Freitas se destaca pela atual disputa política, nas ruas, em defesa da democracia e da manutenção e ampliação dos direitos sociais.
A CUT tem sido protagonista na convocação e realização de atos nacionais para se contrapor à maior onda reacionária vista no Brasil desde a redemocratização.
Faz parte dessa onda a pauta reacionária do atual Congresso Nacional. A Central combateu o projeto de terceirização sem limites de diversas formas, conseguindo que o Senado, onde a proposta será analisada, se colocasse majoritariamente contra a ideia.
A resistência se intensifica à medida que a pauta do retrocesso sai da toca e apresenta projetos como redução da idade penal e a recém-apresentada Agenda Brasil, restritiva à classe trabalhadora.
Entre as conquistas para o trabalhador, a CUT registra neste período a isenção de imposto de renda para a participação nos lucros e resultados (PLR) recebida pelos trabalhadores, a manutenção da correção da tabela do imposto de renda e a continuidade da política nacional de valorização do salário mínimo.
*Escrito por: Isaias Dalle e Igor Carvalho  Fonte: sítio da CUT Nacional

27 agosto 2015

12º CONGRESSO DA CUT COMEÇA AMANHÃ EM BH



Ex-Presidente Lula participará da abertura do Congresso da CUT em Belo Horizonte. O Ato acontecerá na sexta-feira (28), em Belo Horizonte/MG.

CLIQUE AQUI para ler mais (via sítio da CUT).

*Obs.: Este Editor tem - em seu modesto currículo - a subida honra de ter sido um dos fundadores dessa importantíssima ferramenta de lutas dos trabalhadores brasileiros. Vida longa à CUT! (Júlio Garcia)

26 agosto 2015

Por que a direita saiu do armário?



Emir Sader
Por Emir Sader*

Essas manifestações são a prova mais eloquente que os governos do PT não amaciaram a luta de classes, mas a acirraram.

Quando se usa essa expressão, não se está querendo dizer que ela estivesse escondida até recentemente. A direita, na era neoliberal, no Brasil, é representada pelos tucanos e seus aliados e sempre esteve ocupando o campo político como alternativa aos governos do PT.

O que há de novo é a consolidação de um setor de extrema direita na classe média, que teria colocado recentemente as manguinhas pra fora, constituindo-se no fator novo no cenário politico nacional. E que parece que veio para ficar.

Sem discutir a tese da Marilena Chauí – que esse setor insiste em confirmar – de que a classe média seria fascista, é inegável que pelo menos um setor dela assume teses fascistas e o faz da maneira mais escancarada, quase como um clichê, pelos slogans que exibe, pela atitude agressiva e discriminatória, pelo racismo, pelo antiesquerdismo, pelo anticomunismo.

Mas por que agora, há 12 anos do começo dos governos do PT, essa ultra direita sai do armário? Onde estava ela? Por que resolveu sair agora do armário?

Essas manifestações são a prova mais eloquente que os governos do PT não amaciaram a luta de classes, mas a acirraram. Caso os governos do PT fossem apenas uma variante do neoliberalismo – como algumas atitudes sectárias, que não conhecem o país e não sabem das profundas transformações operadas no Brasil desde 2003 – a direita só poderia estar satisfeita, teria que estar comemorando a cooptação de um PT tão expressivo do campo popular – o mais importante de toda a trajetória da esquerda brasileira -, para o seu campo. Menos ainda teria por que se empenhar com todas suas forças para tirar o PT do governo e tentar desqualificar o Lula, para inviabilizar seu retorno à presidência.

Só mesmo porque sentiram que seus interesses estavam sendo afetados, que já não dispunham do governo a seu bel prazer e correm o risco de ver este período se estender muito mais, com uma eventual volta do Lula à presidência, é que a direita saiu do armário e passou a exibir sua cara de ultra direita. 

De que forma esses interesses foram afetados? Em primeiro lugar, na prioridade das políticas sociais e na extensão do mercado interno de consumo de massas, com a distribuição de renda que acompanhou a retomada do desenvolvimento econômico. Se interrompeu a política econômica implantada por Collor e continuada por FHC. Seu fracasso abriu os espaços para governos que romperam com eixos fundamentais do neoliberalismo, em primeiro lugar, a prioridade dos ajustes fiscais e a centralidade do mercado.

Em segundo lugar, pela ruptura com o projeto da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA -, levado a cabo pelos EUA, em complacência com o governo de FHC, que deu lugar ao fortalecimento dos processos de integração regional, do Mercosul à Celac, passando pela Unasul. Um processo que inclui os estratégicos projetos dos Brics, em que o Brasil tem papel chave, e que desenha um mundo multipolar na contramão dos projetos norteamericanos.

Em terceiro lugar, porque a centralidade do mercado deu lugar a espaços para a recuperação da capacidade de ação do Estado, tanto como indutor do crescimento econômico, como da afirmação dos direitos sociais e como ator nos processos de soberania externa.

A já clássica frase de que “os aeroportos estão virando rodoviárias” segue sendo a mais significativa da reação de setores da classe média à ascensão de amplos setores populares. Afora exacerbada, desde a Copa do Mundo, em que a vaia à Dilma foi como que a abertura da porteira da falta de qualquer respeito por parte de setores da direita.

A campanha eleitoral do ano passado foi um aquecimento em relação ao que se vive agora. Tanto Aécio quanto a mídia, exacerbaram sua linguagem e suas formas de atacar o governo, gerando a ideia de que tudo tinha se tornada insuportável, não apenas a situação das classes privilegiadas, mas o próprio país, pela corrupção e pela suposta incompetência do governo. Pela primeira vez na história do país um candidato a presidente triunfou nas eleições contra praticamente a totalidade do grande empresariado – confirmando como estes consideram que seus interesses fundamentais são afetados profundamente pelos govenos do PT.

Para os que nunca aceitaram que os governos do PT tenham sido qualitativamente diferentes dos governos neoliberais, tudo isso é incompreensível. Na sua incapacidade de apreender a realidade concreta, tem que culpar o PT por tudo. Até pela direita ter saído do armário, usado por alguns para atribuir também aí a culpa ao PT.

Por isso a ultra esquerda não conseguiu, ao longo destes 12 anos – nem no Brasil, nem nos países com governos posneoliberais na América Latina -, construir uma alternativa e esta está sempre situada à direita dos governos do PT. Porque acredita que o os governos do PT são neoliberais, a ultra esquerda não compreende a realidade do Brasil hoje e não consegue construir raízes no seio do povo.

O PT é responsável pela saída da direita – e da ultra direita – do armário, porque afetou profundamente os seus interesses.

*Fonte:  cartamaior.com.br

25 agosto 2015

Poema do beco



Poema do beco

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?

— O que eu vejo é o beco.
                                    

                                                         (Manuel Bandeira)

23 agosto 2015

Provas no hospício, por Jânio de Freitas

Por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo*
É até engraçada, sem que deixe de ser o oposto disso, a expectativa generalizada sobre o que um acusado da extorsão de US$ 5 milhões causará ao país: vai abalá-lo ainda mais com suas pautas-bombas, ou enfim vai reprimir sua natureza? Incluirá na pauta da Câmara um pedido de impeachment, ou vai investir contra o procurador-geral da República?
Se um país chega a esse ponto, com o ambiente político e econômico em dependência tão patética, está muito enfermo. Fosse gente, seria recolhido ao hospício. Como não é gente, faz suspeitar de que seja o próprio hospício.
Logo, falemos de Eduardo Cunha. Para começar, duvidando de que alguém possa prever com razoável segurança a conduta do presidente da Câmara no futuro imediato. Apesar disso, pode-se sondar, em linhas gerais, hipóteses que tenha à sua frente.
A primeira: agravar a linha provocativa que mantém na Câmara pode ser negativo para sua situação judicial. Como resposta, é bastante provável que o Judiciário e o Ministério Público se sintam no dever de acelerar a tramitação do processo, para que seus ritmos habituais não sejam acusados de dar oportunidade à conturbação política. Não é menos provável que o apoio dos oposicionistas da linha Aécio incentive a tendência natural de Eduardo Cunha para a pauta-bomba e bombas sem pauta.
A hipótese de autocontenção valeria ao menos como originalidade biográfica para Eduardo Cunha –ao custo de parte do apoio que recebe do oposicionismo extremado, como o grupo aecista do PSDB, e peemedebistas paus-mandados. A liderança de Eduardo Cunha perderia alguma coisa, e é muito incerto que ele conceda essa perda.
Eduardo Cunha tem uma inteligência esperta. Até hoje, não foi capaz de convencer da sua inocência nas irregularidades, graves todas, em que figurou. Mas está na presidência da Câmara, não está arruinado. As acusações que o Ministério Público agora lhe faz em 85 páginas (ou um terço disso em espaço normal) são mesmo pesadas. Mostram, inclusive, conhecimento de truques atribuídos ao acusado, como uso de igreja evangélica para recebimento de suborno.
Mas, teoricamente, condenação depende de prova. É verdade que o Supremo já teve prática diferente e, na Lava Jato, o juiz Sergio Moro já emitiu condenação em cuja sentença admite falta de provas. É recomendável esperar o confronto entre as acusações duras e as respostas experientes de Eduardo Cunha.
A denúncia entregue ao Supremo suscita duas observações. Ficou claro que Rodrigo Janot esperou a condenação de Nestor Cerveró e Fernando Soares por Sergio Moro. Citar na acusação a Eduardo Cunha duas condenações consumadas pelos mesmos fatos dá um reforço e tanto contra o deputado, que fica como comparsa de criminosos condenados.
Nota-se ainda que Janot preserva linguagem apenas profissional, técnica. Não a violenta com os insultos e impropérios usuais em seus antecessores Antonio Fernando de Souza (hoje defensor de Eduardo Cunha) e Roberto Gurgel, sem que sequer os alvos das ofensas estivessem condenados.
De passagem, a denúncia usa de uma expressão perigosíssima para Eduardo Cunha: "desvio de finalidade", aplicada como referência indireta aos ameaçadores pedidos de informação, em nome da Câmara, que Eduardo Cunha teria feito com assinatura da então deputada Solange Almeida. Destinavam-se, disse o lobista delator, a pressionar ele e uma empresa para quitarem o saldo de US$ 5 milhões do suborno. Tal uso da Câmara é conduta que justifica processo interno de perda de mandato. Bem entendido, em Câmaras com certa dignidade.
*Pescado do http://jornalggn.com.br/

20 agosto 2015

Com 100 mil pessoas, ato em São Paulo sepulta terceiro turno e exalta democracia


“Hoje, encerramos o terceiro turno e voltamos a pensar no Brasil, buscando um entendimento nacional que propicie um desenvolvimento com distribuição de renda”, afirmou Vagner Freitas, presidente nacional da CUT, que pediu mudanças nos rumos da economia nacional.
“Esperamos que o ajuste fiscal não seja uma política de governo. Precisamos mudar essa política econômica  do País, os ricos que devem pagar a conta, as grandes fortunas precisam ser taxadas, o trabalhador não pode seguir pagando a conta dessa crise política fabricada”
Foto: Roberto ParizottiVagner Freitas
O sentimento no Largo da Batata, após o grande ato da noite desta quinta-feira (20), é de que o movimento golpista foi derrotado no Brasil. A força da classe trabalhadora ficou evidente quando 100 mil manifestantes pintaram de vermelho o trajeto entre as avenidas Faria Lima (zona sul) e Paulista (centro) gritando “não vai ter golpe”.
“Hoje, encerramos o terceiro turno e voltamos a pensar no Brasil, buscando um entendimento nacional que propicie um desenvolvimento com distribuição de renda”, afirmou Vagner Freitas, presidente nacional da CUT, que pediu mudanças nos rumos da economia nacional.
“Esperamos que o ajuste fiscal não seja uma política de governo. Precisamos mudar essa política econômica  do País, os ricos que devem pagar a conta, as grandes fortunas precisam ser taxadas, o trabalhador não pode seguir pagando a conta dessa crise política fabricada”, defendeu Vagner.
O coordenador do MST, João Paulo Rodrigues, também externou sua sensação de que “o golpe ficou no passado”. “Não há mais espaço para se reivindicar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. O que essas milhares de pessoas devem fazer, daqui pra frente, é disputar esse governo e puxar ele para a esquerda, porque isso ainda não temos garantias de que a presidenta fará”, afirmou.
Carina Vitral, presidenta da UNE, seguiu o mesmo raciocínio e comemorou o “fim do golpe”. “É a pá de cal que faltava. Estamos enterrando o golpismo e os estudantes do País vão às ruas fazer valer nossos direitos e lutar contra os projetos que atrasam o Brasil, como a redução da maioridade penal.”
Contra Cunha
Organizado por diversos movimentos sindical e sociais, o ato começou com um minuto de silêncio em homenagem aos 19 assassinados na chacina de Osasco. O nome de todas as vítimas foi anunciado.
Ainda na concentração do ato, os milhares de manifestantes foram informados de que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi denunciado por corrupção. Alguns grupos começaram a gritar: “eu já sabia”. O coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, ironizou o fato e criticou a falta de coerência dos movimentos de direita que chamaram os atos do último domingo (16).
“Rechaçamos a indignação seletiva desse bando de ignorantes que vai até a avenida Paulista protestar contra corrupção, mas que corre abraçado com o Eduardo Cunha, um corrupto”, explicou Boulos.
Bonecos de Cunha, dos senadores José Serra (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG), além do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foram carregados pelos manifestantes, que ironizaram os quatro cantando o clássico “Se gritar pega ladrão”, do sambista Bezerra da Silva.
Golpe com sotaque
As práticas utilizadas para tentar dar o golpe na presidenta Dilma não representam uma novidade na América do Sul. “Contra Rafael Correa, no Equador, contra Cristina (Kirchner), na Argentina, contra Evo (Morales), na Bolívia, e contra Maduro (na Venezuela), a direita agiu da mesma forma. Utilizando os meios de comunicação e cooptando o judiciários, as direitas tentaram derrubar diversos governos populares”, lembrou Victor Báez, secretário-geral da CSA - Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas.
*Escrito por: Igor Carvalho, no sítio da CUT Nacional 

19 agosto 2015

Por Direitos, Liberdade e Democracia!



*EM DEFESA DA DEMOCRACIA! RESPEITE MEU VOTO!

#NÃOVAITERGOLPE!

*CONTRA O PLANO RENAN/LEVI!

*CONTRA OS AJUSTES E O ARROCHO DE SARTORI!

*NENHUM DIREITO A MENOS, NENHUM PASSO ATRÁS!
...

CLIQUE AQUI para ler a nota da CUT sobre a manifestação nacional desta quinta-feira.

17 agosto 2015

16 agosto 2015

Em nome da democracia

Janio de Freitas e Dilma
Por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo*
“Isso é democracia”. Não é, não. Um dos componentes essenciais e inflexíveis da democracia é o respeito às regras que a instituem. As regras existem no Brasil, precisas e claras na Constituição, mas o respeito é negado onde e por quem mais deveria fortalecê-las. O que está sob ataque não é mandato algum, são as regras da democracia e, portanto, a própria democracia que se vinha construindo.
Não há disfarce capaz de encobrir o propósito difundido por falsos democratas instalados no Congresso e em meios de comunicação: reverter a decisão eleitoral para a Presidência sem respeitar as exigências e regras para tanto fixadas pela Constituição e pela democracia. Há mais de nove meses, a cada dia surge novo pretexto em busca de uma brecha –no Congresso, em um dos diferentes tribunais, nas ruas– na qual enfim prospere o intuito de derrubar o resultado eleitoral.
O regime democrático é tratado na Constituição como “cláusula pétrea”, que se pretende com solidez granítica. O que não significa ser impossível transgredi-lo. Mas significa que quem o faça ou tente fazê-lo comete crime. E quem o comete criminoso é de fato, haja ou não a condenação que assim o defina. Tal é a condição que muitos ostentam e outros tantos elaboram para si.
A pregação de parlamentares identificáveis como um núcleo de agitação e provocação atenta contra a democracia. A excitação de hostilidades que esses parlamentares propagam pelo país é indução de animosidade antidemocrática –sem que isso suscite reação alguma, o que é, por si mesmo, indício da precária condição da democracia e da Constituição.
O que se passa hoje na Câmara, como método e objetivos da atividade, não é próprio de Congresso de regime democrático. Em muitos sentidos, restaura a Câmara controlada e subserviente da ditadura. Em outros aspectos, assume presunções autoritárias, de típico teor antidemocrático, ao ameaçar até aprovações do Senado de punitivas suspensões da sua tramitação.
Afinal, um dos focos da corrupção é arrombado. Os procuradores e juízes do caso receberam tarefa de importância extraordinária. Mas não é garantido que estejam plenamente respeitados nessa tarefa os limites das regras democráticas. À parte condutas funcionais que não cabe considerar neste sobrevoo do momento do país, é notória no grupo, e dele difundida, uma incitação a ânimos não condizentes com investigações e justiça na democracia. Pôr-se como salvadores da pátria, a partir dos quais “o Brasil agora será outro”, não é só um equívoco da ingenuidade. É uma ameaça, senão já algumas práticas, de poderes e atitudes exacerbados que fogem às regras.
Um exemplo que recebeu tolerância incompatível com sua importância: difundir informações inverídicas e sensacionalistas à imprensa, e ao país, “para estimular mais informantes” –como feito e dito por um procurador–, não é ético nem democrático. É autopermissão abusiva. E incitação a ânimos públicos que já recebem das realidades circundantes o bastante para serem exaltados.
O espírito antidemocrático não é alheio nem ao Supremo Tribunal Federal. É nele que um juiz pode impedir a conclusão de um julgamento tão significativo como o financiamento das eleições dos governantes e congressistas. Ou seja, dos que determinam os destinos do país e de seus mais de 200 milhões habitantes. Se alguém achar que é deboche, não vale a pena contestar. Mas convém lembrar que é uma evidência perfeita da prepotência primária, apenas ilusoriamente culta, que sobreviveu muito bem à ruína do seu sistema escravocrata.
Movimentos de ocupações urbanas e rurais são acusados de violar a democracia. É engano. Ilegais, sim, mas não são democráticos nem antidemocráticos. Sequer estão incluídos na democracia, desprovidos que são, todos os padecentes de grandes desigualdades econômicas sociais, de meios democráticos para obter os direitos que a Constituição lhes destina.
E os jornais, a TV, as revistas, o rádio –na verdade, os jornalistas que os fazem– nesse país que concebe a democracia como uma bola, tanto a ser chutada sempre, como a oferecer grandes e efêmeras euforias? Agradeço à sogra de um jogador de futebol, Rosangela Lyra, que me dispensa de alguns desagrados. Disse ela, à Folha, das pequenas e iradas manifestações que organiza pela derrubada do resultado da eleição presidencial: “As redes sociais amplificam e a mídia quintuplica”. Entregou. Delação de dar inveja aos gatunos da Petrobras.
“Isso é democracia” como slogan de antidemocracia só indica que o Brasil ainda não é ou já não é democracia.
*Pescado do Viomundo 
http://www.viomundo.com.br/

15 agosto 2015

Lula e FHC: O desencontro desmarcado


Por Maria Fernanda Arruda*
Em tempos, quando os cronistas mineiros eram ainda pouco conhecidos lá pelas areias de Copacabana, o jovem Fernando Sabino tornou-se precocemente famoso com o romance O Encontro Marcado. Leram? Eu li. Um título provocante: Um encontro de dois amantes? De dois amigos, ou uma turma deles? Mais provável fosse um encontro com a vida. Um título que depois de meio século voltou a ganhar atualidade.

Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras

Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras

Nos últimos dias, tomou forma de notícia de jornal a possibilidade de um encontro entre Lula e FHC. Quem teve a ideia, quando, onde, por que? Alguém aventou a conveniência e a possibilidade de se providenciar um encontro, o encontro marcado entre presidentes. Jaques Wagner teve a coragem despolitizada de anunciar seu desejo, o que alguns outros mais tímidos apenas sussurravam. Com isso, oportunista pouco polido, FHC imaginou que poderia se aproveitar de tal descuido infantil das hostes adversárias, tratando de ser, porém, o desastrado contumaz, mostrando-se (com sua má índole) claramente ser um inimigo da Ordem constitucional: não vejo sentindo num encontro (que objetive o que não merece ser conservado, um governo eleito constitucionalmente?).
Trocando em miúdos: viu a pelota à sua frente e o gol escancarado; chutou para as nuvens. O libreto da opereta está agora revelado por inteiro na fala de Mino Carta, onde fica evidente que a falta de sensibilidade do velho sociólogo, capaz de ser apanhado em conversas de um “particular” com seu ajudante de patifarias (como aconteceu no chamado “escândalo do grampo do BNDES), essa ausência de oportunidade das coisas e das falas, continua vibrante e forte.
O encontro foi desmarcado. Lula já sabia das competências de seu sucedido,nem precisou se irritar: “até porque falo com qualquer um”. Ponto final? Página virada? Não, que seria muito açodamento. Ainda existem perguntas: que sentido haveria nesse encontro? O que pretendiam os que quiseram urdir tão estranha trama? O que resultaria disso?
Em primeiro lugar, este jamais aconteceria. Haveria sim um notável desencontro. Vamos relembrar alguns capítulos mais recentes da nossa História?

Lula e FHC encontraram-se algumas vezes no passado

Lula e FHC encontraram-se algumas vezes no passado

Entre 1985 e a eleição de Collor de Mello, o Brasil experimentou a sua “passagem” de país aquartelado para país moderno, incorporando-se ao mundo globalizado. Como isso era o desejo das elites nacionais, os militares, com seu patriotismo e patriotadas de caserna, foram sem mais devolvidos a ela. Imediatamente em seguida, a burguesia nacional, desvencilhada dos homens fardados, podia cumprir sua vocação de apêndice do capitalismo internacional, acomodando seus interesses com os dos grupos multinacionais: definiu-se um programa de “internacionalização” do Brasil. E, para que isso pudesse ser feito, tratou-se de criar o grande vazio político, dentro dos limites de uma democracia consentida, uma esterilização que não foi processo penoso, pois que o exercício da cidadania, muito pouco praticado em todos os tempos de nossa História, passava a ter pela frente e para seu convívio instituições políticas e políticos já devidamente desmoralizados. A prática do “jogo das aparências”, experimentado pela Ditadura não seria mais útil,e foi substituído pelo “mundo do circo”, da mendacidade que permite confundirem realidade e imaginário.
O marketing político assumindo as rédeas do processo político, com a televisão ganhando o papel educador, onde se movimentariam a seu gosto e planejamento personagens maiores e menores. Para consolidação de uma alienação total da consciência política do povo, consolidou-se como bloco monolítico uma “imprensa livre”, criando uma única voz, propagadora da ideologia da modernidade. Os oito anos de FHC consolidaram no Brasil a força modernizadora da globalização. O Estado, e tudo isso que podemos enxergar hoje e sempre camuflaram, foi disciplinado e posto a vestir os trajes menores que o neoliberalismo lhe reservava. Perdeu o controle das finanças da Nação, renunciou ao papel de planejador capaz de oferecer um projeto a ela. O Estado privatizou-se, não apenas com a liquidação do patrimônio das empresas públicas, Sempre que necessário compraram a consciência e a honra de deputados e senadores, para que fosse possível aviltar aquela que já nascera apequenada, a Constituição de 1988 – de passagem, lembre-se que Lula foi o único líder político a se recusar à assinatura. O capitalismo brasileiro se internacionalizou e, como desdobramento, o Brasil renunciou à sua soberania, tornando-se de forma abjeta uma dependência dos Estados Unidos, acompanhando-o em seu banditismo violento, empenhando-se na viabilização da ALCA.
Depois de oito anos de um governo que desprezou o povo,olhando apenas para a banca internacional, mas sem poder mais apresentar resultados nem mesmo razoáveis, depois de três bancarrotas internacionais, com um crescimento pífio da economia, com um desemprego incômodo e assustador, o fracasso retumbante levou à derrota política. O PSDB e FHC revestidos da empáfia tola que sempre deu traços às elites anacrônicas nacionais, deixaram de interessar e foram descartados. Sob todos os aspectos um governo do PT, com a sua previsível vocação para o “assistencialismo”, passava a ser mais interessante, ao fazer mais remotos os riscos de revoltas populares.
Não será demais lembrar que Lula soube como se compor com o sistema, sem renunciar a si mesmo. Sabia dos limites, como se tivesse ouvido e tomado por conselho a observação feita à época por Celso Furtado: “a margem de manobra do novo presidente será muito pequena”. Lula alargou essa margem. É certo que entregou sua política econômica a homens “confiáveis”, segundo os critérios da banca e dos rentistas. Delegou autonomia absoluta ao Banco Central e teve no seu Ministro da Fazenda uma figura que lembra o finado Benedito Valadares. Mas cumpriu o compromisso de retirar milhões de brasileiros da miséria e da desesperança, ao mesmo tempo em que resgatou a dignidade nacional com uma política de relacionamento independente e construtivo com nações de todo o mundo, mas privilegiando a América Latina e a África.
Iniciando-se então as respostas. Que sentido haveria nesse encontro? Absolutamente nenhum, pois seria um desencontro absoluto, de ideias, posturas, ética, sensibilidade política. Uma revisão, mesmo que rápida dos oito anos de governo FHC mostram um momento torpe na nossa História. FHC traiu o Brasil e não há conversa possível com um traidor não arrependido. Haveria, isso sim, um desencontro.
O encontro desmarcado, fica tudo no mesmo lugar de antes? Não, de nenhuma maneira. Todos os que imaginaram ser desejável o desencontro, como algo que nos ajudaria a “sair da crise”, mostraram seu tamanho menor enquanto políticos. Não entenderam nada, são utilitaristas aproveitadores, até que competentes, na medida em que, mesmo não sendo o poder, estão próximos e convivem com o Poder. Comprovaram que o ministério da presidenta e mesmo os seus “homens de confiança” são politicamente primários.
O mínimo múltiplo comum aos dois ex-presidentes é igual a zero. Sendo fiel a si mesmo, respeitando-se e respeitando o povo que o tomou como líder, o nosso amigo Lula não tem nada para conversar com FHC. Aliás, nunca tiveram, nem nos tempos da Vila Euclides, muito menos agora.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
*Fonte: http://correiodobrasil.com.br/