04 dezembro 2016

Aos heróis, não se recorda com pranto




Por Fernando Brito, no Tijolaço*
Poderia colocar as cenas da multidão que se reuniu a noite passada em Santiago de Cuba, para o adeus a Fidel Castro, cujas cinzas estão sendo depositadas hoje na terra, na sua terra.
Mas é melhor colocar a música que tocou ao final da cerimônia, uma das preferidas de Fidel e uma espécie de canto de recuerdo dos mortos de Playa Girón – que aqui chamamos de Baía dos Porcos, copiando o nome dado pelos norte-americanos – ,uma homenagem aos que morreram para impedir a invasão de seu país.
Foicomposta por Eduardo Ramos – a cuja memória peço desculpas pela tradução – e ganha imensa vida  voz da cantora e compositora cubana Sara González, morta em 2012,

A morte
com sua impecável função
de artesã do sol,
que faz heróis, que faz história
e nos dá um lugar
para morrer,
nesta terra,
pelo futuro.

Que exemplo
se converteu em punhal,
se converteu em fuzil,
se converteu em trincheira
da vontade,
da palavra amar,
da consciência
e da morte.

Não há nomes
dos que caem nas praias,
dos que caem nos montes,
do que caiu com a machete
no mesmo lugar
em que tempos atrás
caíram outros,
outros sem nome.

Aos heróis,
os recordamos sem pranto,
os recordamos nos braços,
os recordamos na terra;
e isso me faz pensar
que afinal não morreram,
e que vivem ali
onde houver um homem pronto a lutar,
a continuar.

*Via http://www.tijolaco.com.br/

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